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Você sabe o que é IDADISMO?

  • Foto do escritor: Adalberto Arilha
    Adalberto Arilha
  • 1 de abr.
  • 4 min de leitura


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Se não sabe, calma que eu te explico – e, spoiler: você já praticou.

Sabe aquela vez em que subiu correndo as escadas, ficou sem fôlego e pensou: “acho que estou ficando velha”? Ou quando olhou no espelho, viu uma ruga nova e disse para si mesmo: “isso não é mais pra mim”? Pois é, parabéns: você acabou de praticar idadismo. Até mesmo quando diz “ah, nessa idade não dá pra aprender coisa nova”... Mais um ponto pra conta.

E, olha, não precisa ficar na defensiva. O idadismo tá tão impregnado na nossa cultura que é praticamente automático – e, muitas vezes, o maior idadista da sua vida é você mesmo.


Somos todos vítimas e agentes de um preconceito que começa cedo. Desde criança, somos bombardeados com imagens e mensagens que associam envelhecer a algo negativo. Nos desenhos animados, os velhos são sempre rabugentos ou frágeis. Na publicidade, aparecem como sombra de quem já foram. E a gente cresce acreditando que envelhecer é isso: perder força, relevância, beleza – e, no limite, dignidade.

A ONU percebeu o tamanho dessa encrenca e declarou 2021-2030 como a década de combate ao idadismo. Por quê? Porque a população 60+ só cresce. Vive-se mais. Mas ainda não se vive melhor.

E sabe o que é mais inacreditável? Estudos mostram que a visão que você tem sobre o envelhecimento afeta diretamente sua saúde e longevidade. Pessoas que acreditam que envelhecer é ruim vivem, em média, 8 anos a menos do que quem encara o processo com positividade. O preconceito internalizado literalmente encurta a vida.

Idadismo autoimune: quando o ataque vem de dentro

Já ouviu falar de doenças autoimunes? É quando o corpo ataca a si mesmo. Pois o idadismo autoimune funciona igualzinho. É o preconceito contra o envelhecimento voltando-se contra você, corroendo sua autoestima, seus sonhos e sua capacidade de enxergar valor na própria vida.

E o mais cruel é que aprendemos isso desde cedo.

Para entender melhor o que é o Idadismo Autoimune, imagine a seguinte analogia impactante e provocativa: pense em uma criança negra que cresce ouvindo que pessoas brancas são inferiores, menos confiáveis ou menos capazes. Ela é alimentada com estereótipos racistas desde cedo. No início, ela mal percebe as mudanças. Mas, pouco a pouco, sua pele começa a clarear. Ela tenta ignorar, tenta se convencer de que não é nada demais. Mas o espelho a confronta todos os dias. Imagine como seria essa jornada – dia após dia, sua transformação avança, lenta e implacável. Ela tenta cobrir a pele, evitar seu reflexo, buscar tratamentos. Mas não há como negar: a cada olhar alheio, a cada palavra dita, o que antes era identidade se dissolve diante de seus olhos. O conflito interno é devastador, um choque entre a identidade construída e a nova realidade a ser enfrentada. Como conviver com a percepção de que se tornou aquilo que aprendeu a rejeitar? Como lidar com o peso de carregar na própria pele o reflexo de um preconceito arraigado? Esse é um abismo emocional profundo, onde cada tentativa de resistir à mudança apenas ressalta sua inevitabilidade. A angústia cresce, o olhar do outro pesa mais, e a sensação de ser um impostor na própria jornada se torna insuportável. Aos poucos, ela percebe que não há mais para onde fugir – tornou-se exatamente o que aprendeu a rejeitar, e o horror disso é devastador.

Um dia, inevitavelmente, nos tornaremos aquilo que fomos ensinados a evitar. E, se não desconstruirmos esse preconceito, acabamos presos em um ciclo de rejeição e autossabotagem.

Envelhecer é privilégio. E responsabilidade.

Envelhecer não é para qualquer um. É para quem sobreviveu. Para quem superou desafios, acumulou histórias e construiu um legado. Cada ruga é um troféu. Cada dorzinha depois da academia é um lembrete de que você está se movendo, cuidando de si, vivendo.

Mas, se queremos mudar o jogo, precisamos começar agora – e pelos detalhes. Que tal rever os símbolos e imagens que usamos para representar a velhice?

Se queremos combater o idadismo, precisamos revisar as representações visuais que fazemos do envelhecimento. Aqueles ícones de idosos encurvados, apoiados em bengalas, não representam a realidade de milhões de pessoas. Está na hora de substituí-los por imagens que reflitam a vitalidade e a diversidade da experiência de envelhecer.

O desafio está lançado

Chegou a hora de redefinir o que significa envelhecer. De ensinar às próximas gerações que o envelhecimento não é um fim, mas um processo – cheio de possibilidades, potência e beleza.

Que tal começar a questionar os símbolos que reforçam o idadismo ao nosso redor? Pense nos ícones de idosos em placas de estacionamento, sempre representados como figuras curvadas e frágeis. Ou nas campanhas publicitárias que retratam pessoas mais velhas apenas como dependentes ou sem vitalidade. Ou até mesmo nos filmes e séries, onde raramente vemos personagens mais velhos em papéis de destaque, vivendo histórias de aventura, romance e crescimento pessoal. As pequenas mudanças de percepção fazem toda a diferença.

Envelhecer não é sinônimo de se esconder. É sinônimo de se destacar. E eu, você e todos que entendem a importância desse tema podemos – e devemos – ser os protagonistas dessa mudança.

Afinal, envelhecer é pra quem tem coragem.



 
 
 

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